
Hemograma de Recém-Nascido: Como É, Quais os Valores de Referência e Quais Doenças Pode Diagnosticar? O nascimento de um bebê é um evento repleto de expectativas, emoções e cuidados. Nas primeiras horas de vida, uma série de exames é realizada para garantir que tudo esteja dentro da normalidade. Entre esses exames, destaca-se o hemograma, uma análise laboratorial fundamental para avaliar a saúde hematológica do recém-nascido.
O hemograma neonatal apresenta características únicas, distintas das encontradas em crianças mais velhas e adultos. Isso se deve ao fato de que, ao nascer, o bebê está em plena transição entre o ambiente intrauterino e o mundo exterior. Nessa fase, o sistema hematopoético ainda está se ajustando, refletindo em valores laboratoriais específicos.
Neste artigo, vamos explorar em detalhes como é o hemograma de um recém-nascido, quais são os valores de referência, o que pode ser considerado normal ou patológico e quais doenças hematológicas podem ser detectadas nesse momento tão crucial da vida.
Se você trabalha com análises clínicas ou é estudante da área da saúde, continue a leitura e entenda tudo sobre esse tema essencial.
Desenvolvimento
O Que é o Hemograma?
O hemograma completo é um exame de sangue que avalia quantitativamente e qualitativamente os principais elementos figurados do sangue:
- Glóbulos vermelhos (eritrócitos);
- Glóbulos brancos (leucócitos);
- Plaquetas (trombócitos);
- Parâmetros hematimétricos como hemoglobina, hematócrito, VCM, HCM, RDW, entre outros.
No contexto neonatal, o hemograma é essencial para detectar sinais precoces de infecção, anemia, policitemia, leucemias congênitas, distúrbios plaquetários e alterações imunológicas.
Coleta e Análise no Recém-Nascido
A coleta de sangue em recém-nascidos deve ser realizada por profissionais com experiência. Em situações específicas ou em hospitais com recursos avançados, pode-se optar por punção venosa. É importante garantir uma amostra adequada, evitando hemólise, coagulação ou diluição, que podem comprometer a análise.
Após a coleta, o sangue é analisado em equipamento automatizado, seguido por leitura de lâmina hematológica manual, especialmente nos casos em que há suspeitas clínicas ou alterações no exame automatizado.
A leitura morfológica permite identificar células imaturas, alterações nucleares, anomalias na forma e tamanho das células, e outros achados relevantes.
Valores de Referência no Hemograma do Recém-Nascido
É fundamental compreender que os valores de referência do hemograma neonatal são diferentes dos encontrados em crianças maiores e adultos. Esses valores variam conforme a idade pós-natal, a idade gestacional (prematuro ou termo) e o tipo de parto (vaginal ou cesárea).
Eritrograma
Parâmetro | Valor de Referência (RN a termo, 0 a 3 dias) |
Hemoglobina (Hb) | 17,0 – 22,0 g/dL |
Hematócrito (Ht) | 45 – 65% |
Eritrócitos | 4,1 – 6,1 milhões/mm³ |
VCM | 98 – 118 fL |
HCM | 31 – 37 pg |
RDW | 15 – 21% |
A hemoglobina elevada é fisiológica no neonato devido à presença predominante da hemoglobina fetal (HbF), que apresenta maior afinidade pelo oxigênio. O hematócrito elevado é comum, especialmente nas primeiras 24 horas.
Leucograma
Parâmetro | Valor de Referência (RN a termo, 0 a 3 dias) |
Leucócitos totais | 9.000 – 30.000/mm³ |
Neutrófilos segmentados | 45 – 60% |
Neutrófilos bastonetes | até 10% |
Linfócitos | 20 – 40% |
Monócitos | 2 – 10% |
Eosinófilos | 0 – 4% |
Basófilos | 0 – 1% |
A leucocitose fisiológica é um achado comum no recém-nascido, refletindo o estresse do parto. No entanto, valores acima de 30.000 ou abaixo de 5.000 leucócitos/mm³ devem ser investigados com atenção.
Plaquetas
Parâmetro | Valor de Referência (RN a termo) |
Contagem de plaquetas | 300.000 – 600.000/mm³ |
As plaquetas tendem a estar em níveis semelhantes aos dos adultos após 2 dias do nascimento, mas alterações podem indicar distúrbios graves como infecções, trombocitopenias congênitas ou doenças autoimunes.
Leitura da Lâmina: O Que Observar?
A análise morfológica é essencial em recém-nascidos. É comum encontrar:
- Eritrócitos normocíticos e normocrômicos, com presença discreta de anisocitose;
- Policromasia moderada, evidência da atividade medular intensa no pós-parto;
- Presença de eritroblastos em pequena quantidade (até 10/100 leucócitos), considerada fisiológica;
- Leucócitos imaturos, como bastonetes e metamiélocitos, especialmente em partos difíceis ou com sofrimento fetal;
- Ausência de blastos ou outras células atípicas (presença dessas deve levantar suspeita de doenças hematológicas graves).
- Hematogônias, são células precursoras dos linfócitos B, podem ser confundidas com blastos, mas não são. ATENÇÃO
Principais Alterações e Doenças Hematológicas no Recém-Nascido

1. Anemia Neonatal
Pode ter várias causas:
- Hemorragias (placentária, interna ou externa);
- Hemólise (incompatibilidade ABO/Rh);
- Anemia fisiológica do RN (queda da Hb após o nascimento, entre 8ª e 12ª semanas);
- Infecções congênitas.
Valores de hemoglobina abaixo de 13 g/dL devem ser investigados, considerando o quadro clínico e histórico do parto.
2. Policitemia Neonatal
Hemoglobina > 22 g/dL ou hematócrito > 65%. Causas:
- Doença da mãe diabética;
- Gemelaridade com transfusão feto-fetal;
- Hipóxia intrauterina;
- Atraso no clampeamento do cordão umbilical.
Consequências incluem hiperviscosidade, icterícia e tromboses.
3. Leucocitose ou Leucopenia
Valores extremos (<5.000 ou >30.000/mm³) sugerem:
- Leucocitose infecciosa: infecção neonatal precoce ou tardia;
- Leucemia congênita: raríssima, mas deve ser considerada quando há presença de blastos em lâmina;
- Síndromes genéticas, como síndrome de Down, que pode cursar com leucemias transitórias.
4. Trombocitopenia Neonatal
Plaquetas < 150.000/mm³. Pode ocorrer em:
- Sepse neonatal;
- Lupus materno (autoanticorpos atravessam a placenta);
- Síndrome HELLP;
- Infecções virais intraútero.
Trombocitopenias graves (<50.000/mm³) aumentam o risco de hemorragias, especialmente intracranianas.
5. Hemoglobinopatias e Doenças Congênitas
A triagem neonatal (teste do pezinho) investiga hemoglobinopatias como:
- Anemia falciforme;
- Talassemias.
Apesar de não serem diagnosticadas diretamente pelo hemograma, o exame pode mostrar:
- Microcitose sem anemia;
- Alterações no RDW;
- Presença de drepanócitos em casos mais avançados.
A Importância do Hemograma na Rotina Neonatal
O hemograma de recém nascido é uma ferramenta essencial no acompanhamento do recém-nascido. Junto com a clínica, ele fornece subsídios importantes para diagnósticos rápidos e precisos. Sua leitura deve sempre considerar:
- Idade gestacional;
- Horas de vida;
- Tipo de parto;
- Condições clínicas maternas;
- Sinais e sintomas apresentados pelo bebê.
Uma leitura equivocada pode levar a decisões médicas erradas, enquanto uma leitura atenta pode salvar vidas.
Conclusão
O hemograma de recém-nascido é um dos primeiros instrumentos de avaliação da saúde hematológica do bebê. Seus valores diferem significativamente dos observados em adultos, refletindo um sistema ainda em maturação e adaptação. Conhecer os valores de referência corretos e as principais alterações esperadas ou patológicas é indispensável para profissionais que atuam com análises clínicas, neonatologia e saúde materno-infantil.
Além disso, o exame pode ser determinante para o diagnóstico precoce de anemias, infecções, doenças autoimunes, leucemias congênitas e distúrbios plaquetários. Um bom profissional de bancada sabe que a leitura da lâmina é indispensável — os detalhes morfológicos fazem toda a diferença quando se trata de saúde neonatal.
Se você atua ou estuda na área da saúde, fique atento aos detalhes desse exame. O hemograma neonatal, quando bem interpretado, pode ser a chave para um tratamento precoce e eficaz, garantindo um começo de vida mais seguro para o recém-nascido.
Confira a aula completa:
Até Mais
Sobre o Autor
0 Comentários